terça-feira, 15 de setembro de 2009

Independência ou morte?

Cláudio Guimarães dos Santos*

Em vez de um risonho verde-amarelo, os que têm olhos para ver deveriam pôr-se de luto neste mês de setembro. É bem verdade que existem os que já sonham com a fartura do pré-sal.Pois dele abusam, de forma eleitoreira, os publicistas do governo que só faltam profetizar, como fez o Conselheiro, que o sertão vai virar mar.

É bem verdade que boa parte da classe média se regozija com os carrinhos "zero" e com as viagens a Miami que agora são possíveis pelo valor baixo do dólar - esse mesmo que corrói as nossas exportações.

É bem verdade que os humildes comemoram a sua ascensão -da classe Z à X- graças ao Bolsa Família, que apenas perpetua o triste clientelismo que nos legou, entre outros, o pai dos pobres Getúlio Vargas (que alguns tentam imitar).Poucos, porém, se recordam dos tributos que nos escorcham a quase todos, uma vez que os poderosos, esses fazem o que querem, como ficou muito claro no "affair" Lina/Dilma e no caso Palocci. Para uns, resta a quebra desavergonhada dos sigilos bancários. Para outros, sorriem os fóruns privilegiados.

Esquece-se amiúde que a democracia brasileira é capenguíssima, que os que votam, na maioria, são eleitores de curral, ainda que de um curral novíssimo -eletrônico e televisivo. Por meio dele, os marqueteiros, essa excrescência da sociedade pós-moderna, fabricam os novos eleitos, manipulando a opinião de quase cidadãos, os quais sucumbem, sem resistência.

Os cinco séculos de abandono e deseducação, patrocinados, sobretudo, pelos "coronéis de m..." e pelos "cangaceiros de terceira categoria" - para nos servirmos de termos em voga no Senado-, é que os deixaram assim: omissos, submissos, meras vaquinhas de presépio.

Raríssimas são as vozes que se erguem para dizer que há um Brasil legal (e perfumado) e um Brasil real (e fedorento); que a Justiça tarda e falha indecorosamente; que avançamos, a galope, para um caudilhismo plebiscitário tipo Chávez; que o governo tenta, a todo custo, atar as mãos do Ministério Público, uma das poucas instituições das quais (ainda) podemos nos orgulhar; que a representatividade dos eleitos é uma lorota; que a coerência ideológica dos partidos é nenhuma, sobretudo a do finado PT, que tantas saudades deixou do tempo em que abraçava as causas populares.

À nossa volta, o que sentimos é uma gosma asquerosa que extravasa (aos borbotões) precisamente das bocas em que apenas a verdade deveria ressoar, que contamina quase tudo o que se vê, o que se ouve e o que se pensa.

Num tal estado lastimável, só nos resta, talvez, sonhar.

Que maravilha se ouvíssemos de certos advogados que eles não mais contribuiriam, com sua astúcia, para que os endinheirados permanecessem impunes. Que maravilha se as faculdades de direito só parissem tribunos vibrantes - combativos como os Gracos e éticos como Sócrates-, em vez de nos entupir com bacharéis ignorantes, vários deles arrivistas e venais.

Que maravilha se os senadores, em vez de suprimir o Conselho de Ética, tivessem um insight moralizante e assumissem inteiramente os seus crimes. Como seria belo ver a tribuna do Senado, tantas vezes enxovalhada, refulgir com as confissões dos pecadores contritos.Que maravilha se os nossos caras-pintadas tomassem de novo as ruas, exigindo nada menos que as cabeças dos canalhas que envergonham a nação, em vez de se perderem em bebedeiras ridículas, em competições de aprendizes ou em grevezinhas uspianas, anódinas e burocráticas.

Que maravilha se os intelectuais dos anos 70, antes tão progressistas, novamente se arriscassem para lutar contra a ditadura que célere se aproxima, em vez de se agarrarem às tetas estatais ou de ficarem em casa gozando indenizações. (E como seria coerente se as tivessem doado, tão logo recebidas, ao "lumpenproletariat".)

Que maravilha se os imortais da academia, num gesto vivo e nobre, repudiassem, veementes, os que denigrem o país, mesmo que um seu semelhante estivesse entre eles. (Que não exista na ABL nenhum genial defunto-autor, como Brás Cubas, com isso ninguém se espanta. Mas que lá haja tantos autores-defuntos, isso dá o que pensar. Pois somente os mortos conseguem ficar calados ante a tragédia imensa que se abate sobre nós.)

Apenas sonhar, porém, não nos levará muito longe. Vemo-nos, assim, ainda que muitos não o queiram, condenados a agir e a nos insurgir contra esse silêncio incompreensível dos bons.

Cabe-nos, portanto, a difícil decisão: o que queremos, afinal, para o Brasil? Independência ou morte?



Cláudio Guimarães dos Santos, 49, médico, psicoterapeuta e neurocientista, é escritor, artista plástico, mestre em artes pela ECA-USP e doutor em linguística pela Universidade de Toulouse-Le Mirail (França). TENDÊNCIAS/DEBATES – Folha de São Paulo

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Nas noites que você não está.


Razão, tento buscar.
Você assim no meu encanto
quando me perco em meu egoísmo
e me engano no eu e você, no você e eu.
Perdido em meu asco, no ensejo de te-la.

Saudade de você.

Perdendo a cândida visão sobre vossos lençóis,
também vou partindo em meio à incertezas
que é o mundo daquilo que foi perdido.
Entende?
É o meu refugiu bem seguro, o conforto...
A idéia de fazer novo, o dia que jaz.

Ah que sonho bonito.
Faze-me sua poesia,
e me repetirei em dialética
velha e mastigada.

E no deleite de sua alma,
altero a noite que era saudade.
Na profusão de seus abraços e abraços
perdido entre os medos do descaso,
me esquecendo em seus versos e
dançando sua música.

Tem certos dias, do sul e do norte,
do oriente e do ocidente e do fuso-desfuso,
que a infinidade da falta
é o que não sabe-se dizer.
- então a gente ama-.


"Pra você minha estrela da vida inteira"
Eduardo Brasileiro.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Epifânia


Quando voltam-se para mim,
e dizem que sou o que mais desprezo...
Visto-me de luto, acendo um cigarro, escrevo uma anedota e no fim estou trajado de palavras que falei, aspirado de minha saudade e deitado em lágrimas.
Essa noite ela se torna reticências pelo silêncio amedrontado - nenhuma palavra - a face escurece, enquanto uma melodia toca meu pensamento para o canto e de repente...

epifânia!

é o ínicio da alma do artista.
Da dor surge! algo surge...!

Eduardo Brasileiro

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Ensaio sobre a loucura


e... você é louco?


Então, por que não trazer uma parcela de insânidade no que há de mais interessante escondido em nós? ... o medo. Por medo não somos, por medo apenas escrevemos como se tivesse sido um sonho o que deveria de fato, ser contado porque fora vivido. A loucura é a fuga da nossa verdadeira vontade.

Eduardo Brasileiro

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

...


Sinto vontade de escrever ao mundo,
quero mais do que palavras e versos,
não sou de palavras e versos,
sou amor matéria.
Tocável.
Caeiro torna-se poeta de minha dor
talvez não seja dor, seja o silêncio de minha companhia
que não me abraça no frio e é indiferente à lagrimas.
Na conversa entre amigos, seu olhar me afaga
e na doce e amarga memória, relembro meu peito no seu peito
deitados num lençol a nos enlaçar.
A manhã leva essa memória do infinito a saudade,
e assim vou me deixando na procura desvairada
taciturno e amiúde os olhares vão se desencontrando.
Ela morrerá e eu morrerei
ela deixará sua dança, e eu deixarei esses versos.
A certa altura morrerá essa sua dança. E esses versoss tambem.


Eduardo Brasileiro & Lucas De Francesco

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Exórdio do poeta


Para cada dia, bastam seus próprios problemas,
Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
fica sempre um pouco de tudo

Esse é o tempo de partidos,
tempo de homens partidos.
Esquecidos em seus dias,
no anteparo de vossos líderes.

Todo passado trás um pouco do bom
e leva um pouco da gente,
e dos homens nostalgia,
dos sonhos o que trazem é esperança.

E no final volte ao exórdio,
o exórdio de todos,
onde somos reis de nossos sonhos.
E ninguem nunca despedaçou tal emoção.



Eduardo Brasileiro
foto: Manuel Bandeira.

domingo, 6 de julho de 2008


Odeia-se aquele que é livre,
porque perturba o descanso
das pessoas rotineiras.

O louco é insuportável,
porque vive perdido
na liberdade total.


Valter da Rosa Borges